segunda-feira, setembro 24, 2007

A institucionalização da Desigualdade Social

Este fim de semana fui com minha família pro Hopi Hari. Pagamos 39 reais (por pessoa) para ter acesso às enormes filas características do parque. Neste domingo tinham aproximadamente 20 mil pessoas dentro do parque, quantidade infinitamente maior do que a capacidade do parque de fornecer acesso à todos os brinquedos durante o tempo em que permanece aberto. Eram 3 horas da tarde, eu havia conseguido andar em somente 2 brinquedos. Estava cansado, com calor e absurdamente mal humorado, até que percebi que o melhor seria mesmo, RELAXAR E GOZAR!!! E comecei a conversar com as pessoas na fila, que me informaram que o tempo de espera pra aquele brinquedo era de aproximadamente 4 horas (comecei a calcular, 2 brinquedos até as 3 da tarde, mais 4 horas pra andar em mais 1, paguei 39 reais pra andar em 3 brinquedos e ir embora cansado e mal humorado, certamente não valia a pena), até que uma menina me informou do pacote “fura fila” do parque, onde podemos pagar mais caro pra furar a fila dos brinquedos. Por 20 reais por pessoa, compramos mais 4 entradas pra furar fila, em 40 minutos, andei em 4 brinquedos e às 5 da tarde fomos embora, às 6 da tarde já estava em casa tomando banho e pensando em como eu era esperto...
Esperto???? Comecei a pensar nas coisas que pago para evitar filas. Tenho o “Sem parar” do pedágio, que por 8 reais por mês, passo pelo pedágio sem ter que enfrentar filas e sem ter que parar o carro. Entro e saiu de estacionamentos de shoppings sem papel, sem fila pra pagar guichê. Compro entradas de cinemas, teatros, eventos, etc, pela internet e pago taxas extras pela comodidade de estar em casa. Pago uma fortuna por uma conta especial no banco pela comodidade de marcar reuniões em casa ou no trabalho, em qualquer dia e horário que eu quero, sem ter que ir ao banco, enfrentar filas e pegar trânsito, pra resolver qualquer problema que eu possa ter. Ligo para os ”disk´s super-mercados”, que por uma taxa, eles selecionam tudo, empacotam e levam à minha casa. Temos também a entrega rápida da farmácia, que é só ligar que em 15 minutos eles entregam (tempo menor que eu demoraria pra sair de casa, comprar e voltar). Isso falando de coisas licitas, sem contar o fato de que se eu perder a carteira de motorista por eventuais multas que tomei, por uma pequena “colaboração” ao despachante, em um mês tenho uma carteira novinha em folha na minha mão.
Quando comecei a analisar, percebi que me tornei uma vítima de um sistema corrupto. Estamos chegando num ponto onde as coisas são criadas para não funcionar, para serem desconfortáveis e pra causarem transtorno, e quem estiver disposto uma “pequena” taxa de usura e ganância, tem direito a passar sem preocupação por tudo. O rico está imune à todos as pragas da sociedade, enquanto os pobres são tratados como as pragas da sociedade.
Claudino Velloso Borges

terça-feira, setembro 11, 2007

Crise?

Na minha opinião ela pode não ter acabado. Mas já na do ministro da fazenda Guido Mantega, ela foi superada e “A turbulência nos pegou com o bolso bem cheio” disse em entrevista a Isto é Dinheiro em 29/08.
Ah sim, estou falando da crise imobiliária norte americana que atingiu fortemente mercados do mundo todo no mês de Agosto, mais precisamente no dia 15.
Mantega, continua dizendo que o Brasil tem uma economia sólida, que o crescimento está baseado no mercado interno, que os EUA não são mais a locomotiva do mundo e que 160 bilhões de dólares de reserva irão segurar uma possível crise.
Nosso ministro está mais do que certo em ver as coisas no plano do otimismo, assim como foram as declarações de Henry Paulson (secretário do tesouro americano), porém não vivemos um mar de rosas.
Ok, agora vamos as considerações:
- O Brasil até pode viver um momento de solidez, mas está crescendo pouco, a taxa de juros está caindo a passos curtos e a expectativa do mercado para a inflação está aumentando, o que mostra otimismo nas palavras e protecionismo nas atitudes.
- Discordo muito de um crescimento baseado na economia interna, já que grande parte dos investimentos vêm do mercado externo e quase nada foi feito em infra-estrutura, na geração de novos empregos e muito menos na desigualdade social, dado a queda no poder de compra do cidadão brasileiro.
- Os EUA podem não ser mais a locomotiva capitalista de 7 anos atrás, mas com um dólar desvalorizado e o mercado imobiliário entrando em parafuso, países emergentes como o Brasil só têm a perder. Além do que se não fosse as medidas do Fed em baixar a taxa de redesconto americana, essa crise teria durado um pouco mais.
- E por fim, uma reserva de 160 bi é muito grande comparado aos mais de 1 tri chinês?? Ou frente a uma crise com o gerador dos dólares para o mundo?
Lembre-se que o Subprime (créditos imobiliários de risco) não é o único problema do Tio Sam, mas sim, uma economia sensível onde os seus investidores têm poder de alavancagem ZERO e com certeza causarão muitos estragos aos Bancos Centrais em uma possível necessidade de resgate.
Ninguém ainda ligou para dizer que o céu estava caindo... e espero que a linha continue livre!

J.A.

quarta-feira, setembro 05, 2007

O Valor do Salário Mínimo

Matéria publicada no jornal Folha de SP dia 01/09, dizia que, segundo os valores previstos no Orçamento para 2008, o salário mínimo subirá para exatos R$ 407,33 a partir de março. (menor reajuste desde 2004), conforme a metodologia prevista em um dos projetos do PAC ainda não aprovado pelo Congresso. Mas sobre isto falaremos um outro dia. A minha pergunta é: Para que serve o Salário Mínimo (vou chamar de SM daqui pra frente)??? Com certeza a primeira resposta que ouviremos da “sabedoria convencional” será: É para combater a pobreza. Então, se você também pensa assim, é preciso começar a rever os seus conceitos.
Do ponto de vista social, o SM é extremamente ineficaz no combate à extrema pobreza!!!
Um estudo de set/2006 dos economistas do IPEA revelam resultados bastante negativos referente ao SM, ou seja, pouca efetividade no combate à pobreza e à extrema pobreza. Só para se ter uma idéia, o estudo nos mostra que com 40% dos recursos gastos com um aumento no SM, o Bolsa Família é capaz de alcançar a mesma redução na pobreza.
Quando se aumenta o SM, automaticamente aumenta o rombo na previdência, o que não acontece com outras políticas sociais. Não estou defendendo o Bolsa-Família, mas que se comece a pensar em políticas na qual o retorno social é maior e mais efetivas. Não adianta aumentar as despesas correntes (é de onde sai o $$$ do SM), pois ao mesmo tempo se está retirando dinheiro de investimento público, logo, diminuindo o potencial de crescimento da economia O rombo da previdência é um dos pilares do nosso baixo crescimento, destarte, é preciso redefinir a política de aumento do SM. Só para dar um exemplo da realidade do que se pode fazer com o SM, em janeiro de 1944, o SM real era de R$ 336,79 e em Julho de 2007 ele era de R$ R$ 380,00. São só 63 anos de diferença para ter aumentado tão pouco!!!!
Sendo assim, para aqueles que argumentam a favor do aumento do SM e ignoram o rombo da Previdência, lembro-lhes a frase atribuída a um anônimo e com a qual Jaqueline Kenedy teria sido recebida em Washington, após o assassinato do seu marido: “ Fora isso, MRS. Kennedy, o que a senhora achou de Dallas?”
Rodrigo Barbosa

Inflação = Crescimento????

“A discussão recente sobre o aumento da meta de inflação para o ano que vem é surrealista. Tudo se passa como se os parentes de um ex-alcoólatra estivessem deliberando que uma tacinha de vinho, quem sabe duas, não faria mal nenhum. Essa gente não entende a tragédia do alcoolismo, ou do inflacionismo, e a importância da abstinência. Para entender, talvez seja bom recordar apensar um único número: 20.759.903.275.651%. São vinte trilhões (!!!), setecentos e cinqüenta e nove bilhões, novecentos e três milhões, duzentos e setenta e cinco mil e seiscentos e cinqüenta e um por cento de inflação acumulada entre abril de 1980 e maio de 1995.”. Estas foram as palavras de Gustavo Franco, em 28/04/04, em uma coluna para a Veja. A discussão sobre o cumprimento da meta de inflação de 2008 veio a tona e alguns analistas já se preocupam com o cumprimento desta meta. Independentemente de que se vamos conseguir cumprir a meta ou não, o que me põem medo é ver o simples aumento da inflação dos últimos meses. A variação mensal do IGPM/2007 saiu de 0,043% de março a abril, e abril a maio, para 0,26% de maio a junho, 0,28% de junho a julho, e 0,984% de julho a agosto. Será que temos realmente com o que nos preocuparmos? Vamos então à discussão. São dados que confirmam que altas taxas de inflação estão diretamente relacionadas à altas taxas de crescimento, e o que o Brasil precisa hoje é crescer. A Argentina cresceu 9% em 2006, com uma inflação de 9,8%. Portanto a inflação seria uma boa saída pro Brasil? Definitivamente não. O que a inflação permite é um financiamento canibal de um crescimento de produção que não se sustenta, explico: Vamos dividir a economia em Bancos, empresas e consumidores e ver a quem interessa a inflação. Os Bancos emprestam, por exemplo, 100, com taxa de juros de 10% = 110, porém a inflação é de 20%, ou seja, ele emprestou 100 e tira 90 (conta de padaria), ou seja, aos Bancos NÃO INTERESSAM. E às empresas? Elas compram matéria prima hoje, pra pagar em 1, 2 ou 3 meses, e quando eles vão pagar, está mais barato do que quando comprou. Ele produz e na hora que vende, seu preço é corrigido pela inflação, portanto, vende mais caro, e ele pega o valor recebido e já transforma em produto, defendendo seu capital em produto (capaz de valorizar), aumentando a produção. Os salários ficam cada vez mais baixos, ou seja, seus custos caem, então PARA OS EMPRESÁRIOS INTERESSAM. E para a população? Ela ganha 100 hoje, amanha ta valendo 70, ou eles compram tudo rápido, ou perdem tudo. Ou seja, NÃO INTERESSA. O que acontece na inflação é que a atividade econômica aumenta, pois os consumidores têm que comprar o mais rápido o possível, e as empresas se aproveitam para defender seu capital e produzirem mais, portanto a inflação funciona como um financiamento para as empresas que crescem mais, vendem mais e elevam o crescimento do país. Porém é um crescimento financiado às custas dos trabalhadores, que faz aumentar a concentração de renda e desigualdade social. Sem contar que a partir do momento que os agentes econômicos se acostumam com a inflação, os contratos e os preços já são calculados baseados na variação da inflação, perdendo então a sua finalidade. O melhor a um ex-alcoólatra, é ficar longe da bebiba!!! Claudino V Borges